sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

O olho é a janela da alma. O espelho do mundo – Leonardo da Vinci


Aludindo à frase do artista renascentista, João Jardim e Walter Carvalho chamaram o filme que lançaram em 2002 de "Janela da Alma". Um documentário de 73 minutos de duração, no qual entrevistam 19 pessoas com diferentes graus de deficiência visual. Míopes também, (João Jardim com 8 e Walter Carvalho com 7,5 graus), os diretores exploraram a forma “diferente” como os entrevistados veem o “mundo”, por causa da alteração ocular que possuem. Frisei o “diferente” e o “mundo” porque me saltou aos olhos o fato de que, o que poderia ser um simples encadeamento de relatos sobre as sensações visuais dos participantes, foi transformado em um dos filmes mais bonitos a que já assisti. O ver (ou não ver) “diferente” não se restringe ao o-que-se-enxerga, mas abarca o como-se-enxerga. O “mundo” não remete ao raso físico, mas ao profundo do metafísico. E aí, os primeiros mil pontos para os cineastas: a escolha dos entrevistados. O cineasta Wim Wenders, o fotógrafo cego franco-esloveno Evgen Bavcar, o neurologista Oliver Sacks, a atriz Marieta Severo, o vereador cego Arnaldo Godoy, o músico Hermeto Pascoal, o escritor José Saramago, a atriz alemã Hanna Schygulla, o poeta Manoel de Barros, a cineasta Agnès Varda, observam o que lhes rodea, através das suas janelas, com todas as cortinas, grades, persianas, impostas pela deficiência visual e alteradoras da paisagem que eles possuem da vida. A alma de cada um se debruça no parapeito e mostra o que de mais bonito e delicado tem, o visível e o invisível, o claro e o escuro. Mas o documentário continuaria um seqüência de relatos, não fosse a perspectiva dos executores da obra. As imagens, focadas, desfocadas, iluminadas, escuras (mais mil pontos para eles), o diálogo constante entre o enxergar e o ver, entre o ver e o não ver.
Estavam iluminados quando se animaram em fazer o filme.
Colaboradora: Leila de Souza Teixeira.
"Amadora" de contos.
"Fotógrafa" amadora.

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