E foram tantas as vezes que encontrei teus olhos incandescentes de calor que achei que a lareira estaria acesa para mim para sempre, que tua boca seria sempre a porta de entrada para o mundo mágico que te pertence, e que eu poderia estar do lado de dentro dos vidros e enxergar por eles a realidade, e experimentar o gosto do mundo pela tua língua para sempre.
Não percebi que para sempre é uma medida de tempo, e como toda medida tem um começo e um meio e um fim, e acho que teu calor - talvez a luz dos teus olhos – era tão inebriante que me deixei levar, me deixei cegar e não vi (não quis ver?) o fim se aproximando, cercando tuas janelas, pairando sobre elas como uma nuvem de inverno tapando o sol, nevando aos poucos para dentro da chaminé até encharcar a lenha e apagar de vez qualquer chance de o fogo ser acendido novamente.
Não quis ver as luzes se apagando e as cortinas sendo puxadas lentamente para que eu não pudesse nunca mais ver o que se passa dentro dos teus olhos, para que eu não adivinhasse que o amor que tu emanavas estava chegando ao fim.
Teus olhos são janelas, sabe, mas a única coisa que consigo enxergar agora é o meu próprio reflexo nos vidros opacos, escuros, vazios. E o mundo que aprendi a ver pelos teus olhos, terei de desaprender, e minhas mãos terão de procurar outro lugar para se apoiar e descansar. E terei de experimentar todos os sabores de novo, treinar novamente o paladar, testar o que é bom e o que não é bom para mim, para o meu gosto, para as minhas vontades. E não importa o que aconteça, o mundo será a partir de então um lugar menos luminoso e menos aquecido pela falta que fará a luz dos teus olhos e o teu calor, para sempre, para mim.
Colaborador:
Texto e fotos de Cristina Moreira
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(Porto Alegre)
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