quarta-feira, 18 de março de 2009

Conto de Carnaval - capítulo XXIV do romance Vale do Rio Preto


O carnaval no Vale do Rio Preto é anacrônico. Nesta região ainda é praticado o famigerado entrudo, trazido pelos colonizadores no século XVII, tendo resistido no país por duzentos anos. Mas no Vale do Rio Preto ainda é forte elemento carnavalesco. Talvez pelo fato da região ter passado um longo período estagnada no tempo até a aventura do italiano Giovane Crespin.
Marissol e seu marido, já enfastiados das agressivas e nojentas práticas do entrudo, decidiram inovar. Vestiram belas fantasias. Ela fez-se linda e irresistível num leve vestido de seda branco, bem rodado na altura do joelho. Colocou uma bela máscara branca com um rosto estilizado que sorria um sorriso alegre e sincero, em preto.
Fábio colocou sobre o corpo uma longa túnica de pano negra e sobre o rosto uma máscara semelhante, mas com as extremidades dos lábios caídas, demonstrando uma enorme tristeza e um profundo sofrimento, daqueles que faltam palavras para descrever e mal se pode chorar, pois o choro é incapaz de alcançar a intensidade do desespero que fulmina a alma. Romantizando o sofrido ser encarnado, Fábio pegou um bandolim emprestado com Cid e saiu pelas ruas declamando versos de amor para sua amada, enquanto, no início da maioria dos versos e no final de outros, ressonava um acorde aleatório que transparecia sua total falta de intimidade com o instrumento, mera alegoria.
E assim saíram pelas ruas de Maricá do Rio Preto, num ato de coragem e bravura, a fim de dar um ponto final nos violentos entrudos. Tinham esperança de que, ao verem tão bela e romântica cena, os foliões fraquejassem e não tivessem coragem de atirar algo como água, farinha ou limão de cheiro sobre o casal. E estavam certos.
Durante toda a tarde o par romântico rodou a cidade. Ele proclamando o amor pela companheira e ela fazendo-se de difícil até sucumbir aos seus encantos e cair em seus braços, fazendo as máscaras beijarem-se. Ninguém na cidade sabia quem eram aqueles mascarados, o que atraiu ainda mais atenção, esvaziando quase que por completo os tradicionais entrudos.
Caída a noite, Maricá do Rio Preto sofria uma transformação...

Para saber mais sobre o Carnaval no Vale do Rio Preto acesse:
http://www.renatoamado.blogger.com.br/
http://www.editoramultifoco.com.br/catalogo2.asp?lv=50

Colaborador:
Renato Amado é escritor, autor do romance Vale do Rio Preto. Publicou os contos "O Flaneur" e "Amor" respectivamente nas antologias "Humano, Humano Demais" e "Agreste Utopia". Colaborador no livro de turismo ´Rio de Janeiro: uma visão elegante`.

3 comentários:

  1. A íntegra do texto pode ser lida em www.renatoamado.blogger.com.br

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  2. A íntegra do texto pode ser lida em www.renatoamado.blogger.com.br

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  3. Ola visitei seu blog e gostei muito e gostaria de convidar para acessar o meu também e conferir a postagem desta semana: Sim ao futebol-arte!
    Sua visita será um grande prazer para nós.
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    Atenciosamente,
    Sebastião Santos.

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